Preço e consumo: o que é e como essa relação mudou depois da pandemia

Se o produto que eu tenho interesse em comprar for do interesse de muitas pessoas, ele pode ficar mais caro? Sim, oferta e demanda balizam parte do preço de tudo que podemos consumir. Mas você sabe no que consistem esses dois conceitos elaborados por Adam Smith ainda na economia clássica?

O que é oferta? E o que é demanda

Pela definição clássica de Adam Smith, oferta é a quantidade de um produto, ou serviço, que as empresas querem – ou podem – vender. Já demanda, é a quantidade desses produtos ou serviços que as pessoas estão dispostas a adquirir.  Segundo o economista Rogério Tolfo, uma forma de entender bem esse movimento de mercado é observarmos os produtos agrícolas. “Quando uma fruta está na entressafra, os preços aumentam. Quando chega a colheita, os preços diminuem, simplesmente, porque há muita fruta disponível”.  

Como a pandemia impactou a oferta e demanda?

A pandemia demarcou essa realidade, com cara de sazonalidade, para vários setores da indústria. O mercado automotivo e moveleiro, por exemplo, foram muito afetados e não há previsão de mudança de cenário. Mas o que aconteceu?

Durante os quase dois anos pandêmicos, as indústrias desaceleraram suas produções. Quando a vacina chegou e a mortalidade começou a baixar, a retomada veio com força. Porém, a demanda por matéria-prima veio de todos os lados e a oferta não se estabilizou, como se imaginava. “Isso acabou elevando o custo de produção. A concorrência pela matéria-prima aumentou e os preços aumentaram”, explica Tolfo. Ou seja, a urgência por insumos na indústria antecipou uma balança de oferta e demanda que nem chegou para a intervenção do consumidor final no jogo do mercado. E, embora os preços dos bens de consumo tenham aumentado, não quer dizer que as empresas estejam lucrando mais. Afinal, o custo de produção cresceu, mas a margem de lucro pode ter continuado exatamente como antes dessas mudanças.   

Qual é o papel do consumidor nesse cenário?

E será que, em pleno século 21, os consumidores ainda têm poder de modificar o mercado? De empurrar os preços para baixo? Para Rogério Tolfo, isso depende do senso coletivo de cada sociedade. “Se está caro, não vou comprar. A gasolina está acima de 7 reais, então, vou circular menos de carro”, sugere o especialista. No entanto, para ele, o que se percebe no Brasil é que a média da população acaba agindo de uma forma diferente. “Se os consumidores conseguem pagar a gasolina no cartão de crédito e adiar o pagamento para o mês seguinte, continuam com a sua rotina inalterada”, explica Tolfo.  Outro exemplo é que, mesmo com uma alta de 30% nos preços dos eletrodomésticos, a maioria das pessoas não posterga seu sonho de comprar uma televisão. Pagam o valor de duas televisões em 24 parcelas. No nosso país, há uma preferência nítida por esse tipo de aquisição. “Talvez fosse mais difícil ter essa postura em relação aos alimentos, mas em termos de bens de consumo duráveis, a população teria esse poder. Porém, o que se vê é fila de espera na compra de carros”, pondera o economista. De qualquer forma, essa é uma avaliação que não julga certo e errado. É apenas uma constatação de um perfil, das características do mercado nacional. 

E como fica o dia a dia do consumidor brasileiro?

A população poderia tomar algumas medidas coletivas combinadas para tentar conter o aumento de preços. Mas nesse pós-pandemia, vivemos em um cenário que outras variáveis aparecem. Uma delas é muito importante e conhecida das gerações mais velhas: a inflação. “Estamos em um momento de perda de valor de renda. Ou seja, aquele salário que o profissional ganhava já não consegue mais comprar o que comprava antes. E essa inflação é interessante porque, no meu entendimento, ela não tem relação com a demanda, salvo o setor de alimentos”, analisa Tolfo.

Segundo o economista, não é porque estamos em um momento de maior demanda na média dos segmentos e sim porque ficou mais caro produzir. Isso impacta no preço final. “Então, a sensação que estamos tendo de que está tudo mais caro, é porque tudo está mais caro mesmo”, ratifica. E se a renda não acompanha a elevação de preços, a consequência é óbvia: perde valor. 

Com a desvalorização da moeda nacional, outra questão surge para dificultar ainda mais a vida dos brasileiros: a exportação. O Brasil é um exportador de vários produtos, mas vamos focar nos produtos alimentícios. Então, se uma empresa tem a possibilidade de exportar em dólar, talvez seja uma estratégia mais interessante para ela do que vender no mercado interno”, explica Rogério.

De acordo com o especialista, a carne representa bem isso. “A China estava comprando bastante do Brasil e havia uma escassez de carne ajustada para o mercado, juntamente com o preço lá em cima. Quando a China diminuiu a demanda, aumentou a oferta para o mercado interno e caiu o preço no Brasil”, afirma. 

Em seguida, a China pode retomar as compras e tudo pode mudar novamente. Ou seja, a globalização dos mercados e a inserção de produtos no mercado internacional acabam gerando esse tipo de situação. O que resta ao consumidor brasileiro é refletir, ponderar, avaliar suas demandas pessoais – e da sua família – para adaptar, semana após semana, dia após dia, a sua lista de compras.   

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